Mauro Ribeiro relembra vitória na Volta da França, 17 anos atrás
Maurício Dehò
Em São PauloA imagem ficou marcada na memória. As placas em contagem regressiva: 500 m, 400 m, 300 m. Há 200 m da linha de chegada, Mauro Ribeiro olhou para trás e viu o ciclista francês Laurent Jalabert se aproximando. "Eu estava no limite das minhas forças, mas consegui tirar duas pedaladas no final para fazer a diferença e vencer por uns 20 centímetros".
De braços abertos, Mauro Ribeiro festeja sua vitória na nona etapa do Tour de 1991
Destaque do paranaense, único brasileiro
a ganhar uma etapa da Volta da França
Há exatos 17 anos, o dia 14 de julho de 1991, que teve seu ápice descrito acima, foi a data mais importante do ciclismo brasileiro, na primeira vitória de um ciclista nacional em uma etapa da Volta da França, competição mais tradicional da modalidade. O paranaense Mauro Ribeiro, então com 27 anos e em sua primeira experiência na prova, conseguiu o improvável triunfo após pedalar 3h40min51s, na 9ª etapa do Tour, com 161 km entre as cidades de Alençon e Rennes.
Mesmo estreando no Tour, a história do brasileiro com a competição já era antiga. Especialista em eventos de um dia, nos moldes da Copa do Mundo de ciclismo, Mauro Ribeiro costumava tirar férias durante as três semanas da Volta da França. No entanto, sua equipe, a francesa RMO, resolveu prepará-lo para a prova. Na primeira tentativa, uma nevasca durante a Volta da Espanha deixou o brasileiro doente e sem condições de pedalar. Em 1990, foi uma fratura no pé que adiou mais uma vez o sonho.
Em 1991, finalmente ele teve sua chance. "Era uma competição muito grande dentro da equipe para entrar no Tour, ainda mais numa equipe francesa. Então, ser convocado representou uma vitória". Depois de meses de preparação, Mauro chegou em sua melhor forma física e cheio de ambição para tentar uma vitória.
"Eu vinha progredindo. Dois dias antes, estava na fuga e a 750 m da chegada o pelotão nos alcançou. Tive três situações assim, morrendo na praia. Depois deste dia, fizemos um contra-relógio e no dia seguinte vencia a etapa", conta o paranaense, que triunfou em pleno dia da Queda da Bastilha, importante data francesa. "Esta prova tem algo fora do comum, que só quem compete pode dizer".
A nona etapa foi disputada com agressividade, devido ao percurso sinuoso e estreito. A ruptura com o pelotão foi a 20 km da chegada, quando uma fuga contou com 14 ciclistas. O brasileiro se deu melhor e disparou para a vitória. Passou no que chama de "vestibular de alto nível".
Apesar do feito, a equipe francesa não deu muita chance para comemoração. O brasileiro teve acompanhamento de um psicólogo no fim do dia, para que a vitória não prejudicasse sua concentração nas 13 etapas restantes. O trabalho deu resultado e Mauro terminou o Tour em 47º no geral - o campeão foi o espanhol Miguel Indurain, com a camiseta amarela.
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