Vacilo tira vitória de dupla brasileira
Companheiros de Cesc/Kuruma/São Caetano, Patrique Azevedo e Patrick Oyakaua fizeram uma fuga brilhante, mas deixaram vitória escapar nos últimos metros
Por Leandro Bittar, do Rio de Janeiro
Uma das tarefas mais difíceis do ciclismo é abrir uma fuga em uma etapa plana sem o consentimento do pelotão. Patrique Azevedo e Patrick Oyakaua (Cesc/Kuruma/São Caetano) fizeram o difícil.Ganharam a torcida de todo o público, ansioso por uma vitória brasileira de etapa. Mas o final não foi dos mais felizes.
Eles abriram uma fuga faltando menos de 50 km para a chegada da última etapa do Tour do Rio e mantiveram a ponta até os 5 metros finais de competição.
Os dois, porém, deixaram a vitória escapar de uma forma que nem eles mesmos conseguiram explicar nem se conformar.
"Perdemos a vitória. Foi uma pena. Uma indecisão e o americano passou", diz Oyakaua, falando de Aldo Ilesic, esloveno da equipe italiana Team Type 1. Já Patrique Azevedo tantou despistar. "Já não tínhamos mais forças. O pelotão veio muito rápido e não tivemos como conter".
A verdade é que a poucos metros da linha os dois conversaram, um olhou para o outro, tentaram se dar as mãos ou algo do tipo (o vídeo da chegada ainda não está disponível, e as imagens obtidas não deixam isso muito claro), perderam a concentração e o embalado esloveno passou por eles em cima da linha.
"Eu não acreditei quando eu vi eles celebrando a vitória antes da linha. Confesso que coloquei toda a minha força para vencer a etapa. Acho que eles aprenderam uma lição hoje, pois estou aqui agora comemorando minha segunda vitória na competição", diz Ilesic.
Tomas Albério - O grande Campeão
O italiano Tomas Alberio é o campeão geral do Tour do Rio 2010. O ciclista de 20 anos, que venceu duas das cinco etapas (ficou em terceiro em uma e em quarto na outra), pedalou com o regulamento no último e decisivo trecho entre Cabo Frio e Rio de Janeiro e ficou com o titulo chegando em 19o lugar no pelotão principal na última perna do Tour.
Aldo Ilesic (Team Type 1/EUA) foi o vencedor dos 154,5km neste domingo, seguido pelos brasileiros do Cesc São Caetano/Cawamar/Kuruma/R.Star/DKS Patrique Azevedo e Patrick Oyakaua.
“Foi uma prova mais de estratégia, em que não me preocupei em andar na frente nos sprints”, reconheceu Alberio que, além camisa amarela do líder geral terminou também a camisa verde de melhor velocista após cinco etapas do Tour do Rio.
“Estou muito feliz com o resultado e agradeço aos meus companheiros de equipe, treinadores, a todos que ajudaram. Disputar as Olimpíadas são um sonho. E quem sabe não estarei nos Jogos do Rio de Jeneiro em 2016”, disse o italiano, que levou para casa R$ 30 mil destinado ao campeão de uma premiação total de R$ 200mil.
Na classificação geral do Tour do Rio 2010, Alberio foi seguido por Chris Jones (Team Type 1/EUA), 18 segundos atrás, e Mauricio Morandi (Scott Marcondes Cesar-SJC/BRA), 24 segundos atrás do campeão.
A entrega dos troféus aconteceu com festa da bateria da Portela no Aterro do Flamengo tomado por ciclistas amadores e curiosos, que abanavam as bandeirolas vermelhas distribuídas pela organização.
“O Tour do Rio mostrou o bom momento que o ciclismo brasileiro vem atravessando. Estamos andando junto de atleta dos principais países do esporte”, avaliou Morandi. “A equipe sabia que podíamos estar entre os primeiros no Tour”, completou. Outro brasileiro que teve muito o que comemorar no fim dos 758km foi Lucas Onesco (São Lucas/Giant/Cicloravena/Americana), que ficou com a camisa branca com bolas vermelhas que identifica o melhor montanhista. Onesco foi o ciclista que alcançou a maior pontuação na soma de todas as Metas de Montanha ao longo do percurso.
“Estou muito feliz. Ganhei a camisa branca e vermelha nas duas primeiras etapas mas, depois que perdi na terceira, achei que não fosse mais recuperar, ainda mais depois do acidente de sábado, quando minha bicicleta partiu no meio na descida da serra de Friburgo. Graças ao meu companheiro Jean Silva eu pude continuar. Ele abandonou a prova para me dar a bicicleta dele”, agradeceu Lucas que no domingo competiu com a bicicleta e o capacete decorados com bolas vermelhas, como a camisa que vestia, numa homenagem surpresa de seus companheiros de equipe.
Para Victor Hugo Ramirez, delegado da União Internacional de Ciclismo (UCI na sigla em inglês) a primeira edição do Tour do Rio foi aprovada. Participaram 136 atletas de 18 equipes (seis estrangeiras). “Se tivesse que dar uma nota ao evento, seria oito, o que é muito bom. Foi o primeiro ano do Tour do Rio e a logística apresentada não é vista em nenhuma outra prova do continente”, elogiou o colombiano. “Ainda há alguns ajustes de detalhes a fazer, mas o Rio de Janeiro tem condições perfeitas para o ciclismo, com variação de terrenos entre montanhas e planos. Sem dúvida os vencedores são os atletas mais completos de todos”, continuou o dirigente da UCI.
Luisa Jucá, idealizadora e organizadora do Tour do Rio, já planeja 2011: “Deveremos alterar a data para fazer com que o Tour do Rio não coincida com outras provas importantes do calendário internacional e, assim, poder atrair os principais ciclistas do mundo”, disse a diretora da Conexão.
A mobilização popular foi um dos pontos fortes do Tour do Rio. Por onde os ciclistas passaram uma multidão se aglomerava para saudar os atletas. Ciclistas amadores também estavam posicionados ao longo de todo o percurso. Os motoristas que tiveram sua viagem interrompida momentaneamente nos trechos interditados saíam dos carros para aplaudir e fotografar o pelotão. Numa ação conjunta do Governo Estadual, dos Municípios por onde a prova passou, da Polícia Militar e da Policia Rodoviária Federal, a interdição de vias importantes como a Via Lagos, a Rio-Santos e a Ponte Rio-Niterói, por exemplo, ocorreu sem transtornos para os usuários. “O Rio de Janeiro mostrou que tem estrutura e entusiasmo para receber eventos desse porte”, comemorou Luisa Jucá.
Enquanto aguardava a chegada do pelotão do Tour do Rio, o Aterro do Flamengo foi palco da Prova de Espera Feminina, competição que reuniu cerca de 70 ciclistas entre profissionais e amadoras. Na categoria elite, a vitória foi de Valquíria Pardial, seguida por Janildes Fernandes e Débora Cristina. “Foi uma prova com muita pressão e estou muito feliz com o resultado. A organização foi incrível”, disse a duas vezes medalhista dos Jogos Pan-Americanos, Janildes Fernandes, integrante da seleção olímpica do Brasil. As vencedoras dividiram premiação de R$ 25 mil.
Classificação Geral
1 116 ITA19890331 ALBERIO
Tomas* Trevigiani Dynamon Bottoli/Italia 18h08'31'' -
2 102 USA19790806 JONES
Christopher Team Type 1/USA 18h08'49'' 00h00'18''
3 161 BRA19810428 MORANDI
Mauricio Scott/Marcondes Cesar/SJC 18h08'55'' 00h00'24''
4 63 ESP19830703 CASANOVA
Sergio MMRBikes.com/Espanha 18h09'37'' 00h01'06''
5 106 USA19820414 HANSON
Kenneth Team Type 1/USA 18h09'44'' 00h01'13''
6 66 ESP19850710 MILAN
Diego MMRBikes.com/Espanha 18h09'44'' 00h01'13''
7 155 BRA19800509 AZEVEDO
Patrique Cesc Sao Caetano/Cawamar/Kuruma/R.Star/DKS 18h09'45'' 00h01'14''
8 13 BRA19870904 ROSA
Cristian Clube Dataro de Ciclismo 18h09'45'' 00h01'14''
9 1 BRA19830316 SIDOTI
Breno Funvic/Sundown/Pindamonhangaba 18h09'45'' 00h01'14''
10 164 BRA19860117 NAZARET
Magno Scott/Marcondes Cesar/SJC 18h09'46'' 00h01'15''
Classificação Geral Montanha
1 27 BRA19891113 ONESCO
Lucas* Sao Lucas/Giant/Cicloravena/Americana 18
2 12 BRA19890513 PEREIRA
Eduardo* Clube Dataro de Ciclismo 12
3 74 POR19820812 ISIDORO
Micael ASC/Vitoria/RTL - Portugal 9
4 11 BRA19780424 SEABRA
Renato Clube Dataro de Ciclismo 8
5 154 BRA19910321 KNAPP
Mauricio* Cesc Sao Caetano/Cawamar/Kuruma/R. Star/DKS 8
6 111 BRA19871020 ANDRIATO
Rafael Trevigiani Dynamon Bottoli/Italia 6
7 162 BRA19810428 MORANDI
Fabricio Scott/Marcondes Cesar/SJC 6
8 155 BRA19800509 AZEVEDO
Patrique Cesc Sao Caetano/Cawamar/Kuruma/R. Star/DKS 4
9 44 BRA19800719 MANTOVANI
Alexandre São Francisco Saude/KHS/Rib Preto 4
10 115 ALB19900404 ZHUPA
Eugert* Trevigiani Dynamon Bottoli/Italia 4
11 164 BRA19860117 NAZARET
Magno Scott/Marcondes Cesar/SJC 2
12 65 ESP19780303 MENENDEZ
Ruben MMRBikes.com/Espanha
Classificação Geral Equipes
1 Cesc Sao Caetano/Cawamar/Kuruma/R. Star/DKS 155 156 153 10h11'51'' -
2 Memorial/Prefeitura de Santos/Giant 36 34 38 10h11'51'' 00h00'00''
3 Team Type 1/USA 105 106 102 10h11'51'' 00h00'00''
4 ASC/Vitoria/RTL - Portugal 72 75 73 10h11'51'' 00h00'00''
5 Sao Lucas/Giant/Cicloravena/Americana 21 22 26 10h11'51'' 00h00'00''
6 X-Pro/IB Factoring/Uniao Ciclistica MG 176 171 172 10h11'51'' 00h00'00''
7 MMRBikes.com/Espanha 66 63 65 10h11'51'' 00h00'00''
8 FW Engenharia/Amazonas Bike/Tres Rios/Trotz 124 126 121 10h11'51'' 00h00'00''
9 Trevigiani Dynamon Bottoli/Italia 112 116 115 10h11'51'' 00h00'00''
10 São Francisco Saude/KHS/Rib Preto 41 43 44 10h11'51'' 00h00'00''
11 Funvic/Sundown/Pindamonhangaba 3 1 5 10h11'51'' 00h00'00''
12 Start Cycling/Argentina 83 85 82 10h11'51'' 00h00'00''
13 Clube Dataro de Ciclismo 13 11 18 10h11'51'' 00h00'00''
14 Scott/Marcondes Cesar/SJC 164 161 162 10h11'51'' 00h00'00''
15 Altolim/Assis 53 52 55 10h11'51'' 00h00'00''
16 Seel/Para/Fumbel 144 145 142 10h11'51'' 00h00'00''
Jovem escalador foi o Rei da Montanha e conquistou a única vitória brasileira na competição, de quebra, ganhou equipamentos personalizados
Por Leandro Bittar, do Rio de Janeiro
Um brincadeira entre o diretor da equipe São Lucas/Giant/Americana, Ilson Brawn e o ciclista Lucas Onesco rendeu uma das imagens mais curiosas deste Tour do Rio.
Brigando pela camisa de bolinhas e, consequentemente, pela liderança da classificação de montanha, Onesco foi motivado pelo treinador para atacar na Serra e manter a ponta da classificação. "Se você mantiver a camisa, vou encher sua bike e seu capacete de bolinhas vermelhas, como no Tour", brincou Brawn.
Não deu outra. O ciclista lutou pela ponta até o final e só não vestiu a camisa de montanha na 4a etapa, quando perdeu a liderança para Eduardo Pereira (DataRo) no critério de desempate.
A alusão aos equipamentos customizados, porém, só conseguiu ser concretizada no último dia de competiçaõ, quando o treinador achou as bolinhas no comércio de Cabo Frio. "Só tem um problema, vai dar trabalho para tirar", brinca o treinador sobre a improvisação.
Em tom mais sério, os dois sairam satisfeitos de terem levado o Brasil ao topo do pódio e conquistado o único sucesso brasileiro no Tour do Rio.
"É a conquista mais importante da minha carreira", resume Lucas Onesco, que ainda é atleta sub-23 e que acredita poder brigar por provas de etapas nos próximos anos. "Preciso evoluir no contrarrelógio para isso", completa.
"Fizemos uma estratégia simples e corajosa, de armar a equipe para o Luquinha saltar nas metas. Isso deu muito certo, principalmente, na 4a etapa, quando tínhamos apenas uma chance para retomar a liderança", conclui Ilson Brawn.
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